sábado, 11 de janeiro de 2014

"ROLEZINHO" UMA NOVA ONDA, UM NOVO DESAFIO!

A tarde deste sábado, 11 de janeiro, em São Paulo foi marcada com mais um episódio da mais nova onda que surge entre adolescentes de centros urbanos do Brasil. O chamado "rolezinho", encontro marcado através de rede social que leva centenas de adolescentes para shopping's onde acabam ocorrendo arrastões, tumultos e confrontos com a polícia. No episódio deste fim de semana a Polícia Militar de São Paulo (PMESP) precisou fazer uso de técnicas de dispersão com o emprego de munições de elastômero e gás lacrimogênio para dispersar a multidão composta por adolescentes. Nesta modalidade de encontro, vários furtos são praticados, podendo ocorrer o que conhecemos popularmente como "arrastão" (Prática de furtos em que os agentes atuam em grupos e de forma capaz de dificultar a identificação feita pela polícia). O fenômeno apresenta como um desafio para as autoridades de segurança pública e traz a tona o fato de que  a polícia deve especializar-se cada vez mais no potencial que as redes sociais possuem de facilitar a realização de encontros de multidões em locais públicos. Encontros marcados sob as mais diversas intenções, dentre elas as criminosas. Tais fatos nos mostram que os órgãos de defesa social podem e devem criar e manter meios de monitorar os encontros de massas marcados pela internet, de forma a se antecipar para prevenir práticas delituosas. 

Dentre os participantes dos "rolizinhos" estão adolescentes dominados pela cultura da ostentação, uma outra nova onda que tem ditado as regras do comportamento de adolescentes da periferia e também os da classe média. Adeptos afirmam que os encontros não tem como objetivo a prática de crimes. Ocorre, porém, segundo eles,  que dezenas de cidadãos sem boas intenções, aproveitam-se do acontecimento para espalhar o terror, praticar vandalismo e crimes diversos contra o patrimônio. 

A questão dos rolezinhos já toma viés de uma discussão sobre inclusão social. Para algumas pessoas a ação da polícia favorece o esteriótipo de exclusão de membros das classes pobres, sendo que os encontros são marcados por adolescentes da periferia. Dizem que a repressão ao encontro é uma espécie de segregação que tem como fim tirar dos adolescentes pobres o direito de frequentarem os mesmos lugares (públicos) que frequentam os da classe mais privilegiada.

   
Leia as matérias. 

Veja:

Polícia usa bala de borracha para conter 'rolezinho' em SP

Confronto aconteceu na entrada do Shopping Itaquera, na Zona Leste da cidade

A PM apreendeu 17 adolescentes no shopping Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo
A PM apreendeu 17 adolescentes no shopping Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo (Robson Ventura/Folhapress)
A Polícia Militar e jovens que participavam de um ‘rolezinho’ entraram em confronto no início da noite deste sábado em São Paulo, relata o jornal Folha de S. Paulo. Segundo a PM, mais de 1.000 pessoas participaram do encontro no Shopping Itaquera, na Zona Leste da capital paulista. No confronto, a polícia utilizou balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio para conter as pessoas que participavam do encontro marcado através de redes sociais on-line.
Ainda segundo a PM, uma funcionária do shopping passou mal e foi retirada de maca. Muitos jovens entraram no centro comercial e começaram a cantar e gritar. Com medo de arrastão, os lojistas começaram a fechar as portas, assim como muitas lanchonetes e restaurantes da praça de alimentação. As pessoas que estavam no local, também com medo, começaram a deixar o shopping. Houve correria e tumultos.

A assessoria de imprensa do shopping Itaquera informou que a ação da polícia aconteceu do lado de fora do centro comercial. Os policiais militares usaram bombas e balas de borracha para dispersar o grupo na rampa de acesso interligando o shopping à estação de metrô Itaquera, na linha vermelha. Houve confronto também no terminal de ônibus que funciona junto à estação de metrô. A polícia disse ainda que, durante o confronto no terminal, "diversas lojas foram danificadas".
No próximo sábado haverá um novo ‘rolezinho’ no Shopping Itaquera, segundo informações compartilhadas em redes sociais. O shopping reforçou sua segurança com o apoio da Polícia Militar desde dezembro para reprimir possíveis tumultos e prejuízos.

Em dezembro, um ‘rolezinho’ causou tumulto no Shopping Interlagos, na Zona Sul de São Paulo. Houve gritaria, pânico e 25 jovens foram detidos por terem supostamente iniciado a confusão. Clientes relataram furtos, apesar de o shopping negar a informação. Lojas baixaram as portas com medo de roubo. O caos só não foi maior porque a polícia estava no local quando a ação começou.

Último Segundo:

Jovem de 16 anos que se produz como se fosse para uma festa diz que há os que preferem usar o evento para roubar

“Uso Brooksfield, Puma Disc, Polo Play, Oakley, Mr. Kitsch, Mizuno, Airmax, Reebok... Só original.” Morador da zona leste de São Paulo, J.E. gosta de se vestir bem. Aos 16 anos, ele tem o perfil da maioria dos adolescentes da periferia que decide correr o risco de parar na delegacia em nome de um novo tipo de diversão: se reunir em grupo para correr, ostentar roupas de marca e principalmente flertar no shopping. "Protesto? Rolezinho é para pegar mulher", afirma.
J.E. esteve presente na primeira vez que o fenômeno foi registrado, no Shopping Itaquera, no dia 7 de dezembro do ano passado, quando seis mil jovens provocaram pânico entre lojistas e clientes, três deles roubados.
Embora apoie o movimento, o garoto tem dúvidas se aparece no próximo rolezinho no mesmo shopping, marcado para as 16h de amanhã. O medo é terminar enquadrado pela polícia. "Nenhum amigo meu foi parar na cadeia, mas vi um rapaz levar uma rasteira de um policial no meio do shopping", recorda o adolescente, que divide os adeptos do rolezinho em dois grupos, o que sai de casa para se divertir e o que prefere roubar.
“Eu não concordo com quem vai para arrastar e roubar. Isso é coisa de trombadinha. Eu tive amigos que me deixaram sozinho para ir roubar, dizendo 'ah, se tá todo mundo arrastando, vamos arrastar também'”, relembra ele, que descreve, satisfeito, como aproveitou seu rolezinho: "Curti a minha ficando com as menininhas."
Preparativos
J.E. mora com a família. “Eles ficaram pê da vida quando souberam do arrastão, mas não me disseram nada.” Antes de partir para o rolezinho, ele se produz. Escolhe um de seus tênis, “de R$ 300 para cima”, e não dispensa o boné, de preferência da Quiksilver (R$ 180). “Tenho um tênis de R$ 1 mil. A blusa que estou vestindo agora custa R$ 300.”
Embora namore, no dia do rolezinho o garoto vai sozinho ao shopping, onde encontra os amigos da mesma idade. “Eu namoro, mas quando saio para o rolezinho aviso: 'amor, estou solteiro, quando eu chegar a gente volta'. Eu sempre peço um tempo e ela deixa.”
Quando o corre-corre no shopping começa, os garotos se dividem. Enquanto “um povo começa a correr, puxar o boné de quem está usando, pegar os tênis dos mostruários e derrubar tudo pelo caminho”, J.E. chega nas “novinhas”. “As meninas já vão com a intenção de ficar. Você tendo o que elas gostam, sendo simpático, sabendo conversar, consegue fácil. No primeiro eu fiquei com cinco e no segundo com outras cinco.”
Facebook
As características de J.E. são predominantes entre os mais de 820 jovens que confirmaram presença na página do Facebook que convoca a população para o rolezinho de amanhã. Além de o espaço servir para divulgar festas de funk e alertar contra o perigo policial, a maioria dos participantes usa o evento para flertar.
“Em vez de roubar vamos atacar essas novinhas”, diz um participante. “Quem vai querer tirar foto comigo?”, pergunta outro. “Há também os pessimistas: “As minas deram chapéu no último.”
O evento tem até a enquete “vocês vão ao shopping para quê?”. Algumas alternativas: tumultuar, tirar foto, beijar escondidinho, descer a escada rolante que sobe e subir a escada rolante que desce. J.E. escolheu “conhecer gente nova”. “Das últimas vezes não peguei o contato de ninguém, mas é um bom momento para encontrar novas pessoas, fazer amizades e pegar umas novinhas.”
Consumo e Protesto
Para o jurista Luiz Flávio Gomes, mesmo que inconsciente, o rolezinho representa a insatisfação de uma subcultura sem acesso ao mercado. "O shopping é bastante significativo porque é um dos maiores símbolos do consumo. É para marcar presença, dizer 'eu existo'."
Gomes acredita que "esse rolê é perturbador para o mercado de consumo porque tem gente que deixa de ir ao shopping por causa disso". "Como a polícia atua em favor desse poder, ela monta guarda e leva os menores para a delegacia com o intuito de intimidar e evitar que a prática se repita", explica o especialista. No rolezinho do Shopping Interlagos, 14 menores foram levados para a delegacia.
J.E., que está no segundo colegial e ganha R$ 750 com seu trabalho, nega a intenção de questionar o consumismo quando questionado a respeito. “Ninguém fala dessas coisas, mas é claro que você é discriminado quando vai mal vestido para o shopping.” Ele diz que uma vez chegou a gastar R$ 5 mil em uma ida ao shopping. “Tudo parcelado, né? Minha mãe não liga porque é com o meu dinheiro. Pelo menos é com roupa, não é com besteira, né?”

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