terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

GRITOS NO MORRO - A REALIDADE DA LUTA CONTRA O TRÁFICO


Acordei as 03 da manhã. Suado! Não havia dormido muito bem. Tomei um banho, me despedi da minha esposa e do meu filho, oito meses de idade. Aquela comunidade não era fácil. Vários outros policiais haviam morrido ali. Vário policiais perderam a cabeça e a carreira ali. As seis da manhã estávamos todos na base do morro. Fardados, armados e ansiosos - mas atentos e diligentes. Houve uma preleção. Sabíamos com quem estávamos lidando. Uma facção criminosa dominava o morro. A população não confiava na polícia mas confiava nos bandidos. A polícia não estava lá quando eles precisavam de remédio ou do gás de cozinha. Quando alguém se atrevia a roubar na comunidade, eles (os traficantes) é que aplicavam o corretivo. O ultimo da vida do gatuno.


Começamos a subir. Progredimos em atitude tática, atentos a cada detalhe ou sinal de perigo. Fomos recebidos por balas de fuzis. Revidamos, cautelosamente. Entre nós e os bandidos havia uma "pequena" população de aproximadamente 27 mil habitantes. No fogo cruzado. Eu temia a morte. Sentia-me perto dela. 

Em uma viela feriu-se um soldado. Prioridade na rede; policial ferido. Foi socorrido o soldado. Continuamos a luta. Vasculhamos barracos abandonados, revistamos suspeitos e fomos hostilizados. Em nossa diligência nos deparamos com um sodado do tráfico, desorientado como uma zembra que se perde do bando no momento do ataque dos leões. Incauto apontou uma pistola. Para não morrer tive que atirar. Um só tiro no peito o abateu. Caído no chão, ainda vivo, o socorremos. De repente os outrora escondidos moradores dali se revoltaram, nos chamaram de assassinos. Disseram que matamos um trabalhador. No momento não nos preocupamos muito. Sabíamos o que estávamos fazendo, sabíamos que era matar ou morrer. 

Logo mais em um jornal. Eis a manchete: 'População se revolta com a morte de um trabalhador por tiro disparado pela polícia em comunidade.' ´Servente de pedreiro fulano de tal teria sido morto por policiais.´

Protestaram, queimaram ônibus e pediram justiça.

Antes eu temia só a morte. Mas ali temia também pela minha reputação, minha dignidade e minha carreira. 

O FATO NARRADO É UMA FICÇÃO QUE RETRATA A REALIDADE DA GUERRA CONTRA O TRÁFICO NO BRASIL. 

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