quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

VIOLÊNCIA E POLÍCIA NO BRASIL - ENTRE PROTESTOS E DEDOS NA FERIDA.

No ultimo dia 25, centenas de policiais juntamente com lideranças políticas da categoria realizaram um manifesto em Brasília contra o alto número de mortes de policiais no Brasil. Coincidentemente, no dia anterior o programa Profissão Repórter da TV Globo havia apresentado uma matéria sobre o aumento do número de pessoas mortas por policiais no país no ano passado. O corporativismo levou muita gente (inclusive a mim) em uma onda incontrolável. Juntos, condenamos a reportagem e acusamos a referida emissora de pintar uma imagem negativa dos policiais. Diante desses eventos de grande importância, somos convidados como que por um brisa de bom senso a refletir sem emoções sobre o quadro drástico da segurança pública no Brasil.


 Estamos vivendo em uma guerra, em uma ciranda de mortes e precisamos parar. De um lado, lideres comunitários e moradores da periferia protestando contra a violência policial e, de outro, policiais protestando contra a inércia do próprio estado diante do tão alto número de policiais mortos em atividade, numa média de 500 agentes por ano. A vida de qualquer pessoa é impagável, portanto as mortes precisam parar. Na pauta do movimento busca-se o fim da impunidade.



No ato que reuniu líderes sindicais, deputados e representantes de policiais, agentes prisionais e bombeiros destacou-se o pedido pela aprovação de uma lei que classifica como hediondos os crimes praticados contra agentes do estado. Especialistas opinaram dizendo que o mero aumento de penas não pode ser a solução e que é preciso romper com a lógica de guerra na atividade policial. Segundo os advogados dessa ideologia o nosso sistema de justiça criminal está mais preocupado em impor uma 'sensação de segurança' pública através da presença da polícia e de um número alto de prisões do que tratar do problema da violência em sua raiz. 



Como enxerga a família policial?



Para grande parte dos envolvidos na atividade policial, existe uma deslealdade por parte da mídia e de organizações de direitos humanos que, segundo eles, são inimigas da polícia por mostrarem apenas o lado negativo das instituições policiais. De fato, é raro algum bom exemplo ser divulgado por esses canais, sendo a atividade policial vista com desconfiança. 



Independente disto, nós que, direta e indiretamente estamos envolvidos com o dia a dia da segurança pública, policiais ou meros apoiadores da polícia brasileira, precisamos parar, refletir e entender que por mais incômodo que seja, um dedo na ferida é sinal de que há uma ferida e se há uma ferida, precisamos curá-la. 



O que é preciso fazer? 



Em primeiro lugar, o nosso país precisa aprender a valorizar seus bons policiais que são - acredite se quiser - a maioria.  Nossos policiais precisam estar protegidos, e aptos a proteger, más enquanto não houver uma política de modernização da estrutura policial isso não será possível.  O aumento da taxa de pessoas mortas em confrontos com a policia, independente de quantas dessa pessoas são criminosas, é a prova gritante do fracasso do nosso sistema de defesa social, pois o uso da força letal é justificado apenas em casos extremos, logo se estamos chegando em situações extremas tantas vezes que o número de mortos pelo estado chega a ser de 801 pessoas em apenas um ano e em apenas uma unidade da federação e o número de policiais mortos chega 500 por ano é sinal de que a prevenção criminal esta sendo deixada por último. O estado precisa de uma política que evite o confronto e estabeleça a paz. É ele, o estado, o grande culpado por essas mortes, tanto de civis como de agentes da lei. 


A violência é um ciclo. Pessoas vão continuar morrendo enquanto não mudarmos a nossa forma de enxergar a segurança no país. 

A visão muda quando você percebe que as mortes ocorrem de ambos os lados. 




Precismos parar de esconder o problema debaixo do tapete e reconhecer que a segurança pública precisa de reforma; sem dar espaços para ressentimentos corporativistas.  Os policiais honestos, de bem e de respeito precisam encabeçar essa luta e entender que polícia respeitável se faz com polícia que respeita. A violência policial e a corrupção existem e precisam ser denunciadas primeiro pelos bons policiais. Os defensores dos direitos humanos precisa perceber que os policiais estão envolvidos em um sistema falido e cruel, que põe a vida deles e de terceiros em risco e que a profissão policial precisa ser respeitada, valorizada e reinventada continuamente. É necessário estabelecer o ciclo completo: diminuir, de fato, a impunidade com uma sistema que consiga esclarecer pelo menos  a quase totalidade dos crimes; estabelecer carreira única para as polícias estaduais; garantir a participação popular nas tomadas de decisão sobre segurança pública; reformular a política sobre drogas; priorizar o policiamento preventivo e o evitamento dos crimes e, assim, resgatar a autoridade policial. 

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