Os últimos acontecimentos no Rio Grande do Sul, a paralisação dos servidores (destaque policiais) em decorrência do parcelamento dos salários chamam a atenção para um problema que poderia ser notado antes da crise atual: O histórico sucateamento da polícia judiciária. Tal mazela não é exclusividade do território gaúcho, praticamente todos os estados da federação sofrem com a falta de estrutura das polícias civis.
Dentre as principais denúncias estão a ausência de tecnologias para realização das investigações, além da alarmante sobrecarga de trabalho traduzida no acúmulo de inquéritos policiais não concluídos e crimes não solucionados. O efeito desse absurdo reflete diretamente nas ruas e nos índices criminais, sobretudo no aumento dos homicídios já que a impunidade se consolida pela incapacidade do estado de encontrar os autores desses crimes.
Como prova de que o problema é generalizado, aí vão alguns links: Polícia científica sucateada em Pernambuco, Polícia Civil de Minas, delegacias abandonadas.
Em Minas Gerais os servidores da Polícia Civil iniciaram um movimento contra 'a morte lenta' da instituição. Os policiais denunciam a dificuldade que possuem ao tentarem dar resultados para a população. Destacam o aumento da criminalidade e o baixo número de resolução de crimes.
MAIS INVESTIMENTOS E CICLO COMPLETO
A elucidação de crimes contra o patrimônio parece ser algo que não exite, na maioria das vezes, com isso os roubos só aumentam. Homicídios permanecem como mistério, ou demoram mais do que o tempo necessário para serem solucionados. É bom ressaltar que o problema não decorre de incompetência dos servidores e sim das más condições de trabalho associadas à sobrecarga. Não é possível também, ver o problema sem enxergar suas causas técnicas e estruturais. Além da falta de investimentos, as policiais brasileiras sofrem com o fracasso de seus modelos estruturais que são antiquados, não tendo acompanhado a evolução da sociedade e do crime. Como possuímos duas polícias, uma militar e outra civil, para tratar dos mesmos casos, ocorre o que chamamos de efeito funil. A Polícia Militar nas ruas atua com todo tipo de ilícito (do mais simples ao mais grave) e deve obrigatoriamente levar essa massa enorme de casos para a Polícia Civil que possui estrutura e efetivo menores que os da Polícia Militar. Assim os servidores da polícia judiciária ficam sobrecarregados, enquanto equipes da Polícia Militar, que deveriam estar patrulhando e atendendo a população, ficam presas dentre de uma delegacia esperando para serem atendidos. Para a maioria dos especialistas em segurança pública, somente a instauração de um CICLO COMPLETO de polícia seria capaz de resolver isso. Desse forma, poder-se-ia dar às polícias ostensivas a atribuição de resolver todos os crimes com os quais tiver contato, exercendo a investigação criminal em crimes de menor potencial ofensivo e tratando dos flagrantes, enquanto as polícias civis ficariam a cargo de investigar crimes contra a vida, os crimes de maior potencial ofensivo e promover o desmantelamento de organizações criminosas. Não se pode olvidar também do papel das Guardas Municipais, que podem exercer o policiamento preventivo e a mediação de conflitos. Há quem discuta e há quem não queira o ciclo completo, más se olhamos para o mundo, veremos que o Brasil é um dos poucos países em que o ciclo de policia é fragmentado e isso não é uma vantagem.
É obvio que o estado deve pagar melhor, deve investir em tecnologia e na qualidade do ambiente de trabalho, más é hora de ter uma visão mais ampla da mudança que precisamos.
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